quinta-feira, 19 de novembro de 2009

Desemprego e destruição activa

"Ontem Portugal ficou em choque com os números do desemprego: 9,8%, o valor mais alto desde que há dados fiáveis.

São números pesados, mas, ainda assim, números. E os números às vezes até nos ajudam a distanciar-nos da realidade. Algo que não nos permitem as caras deseperadas dos 350 trabalhadores da Aerosoles que ontem se reuniram em Esmoriz, em cada vez maior risco de perder os seus empregos - a empresa precisa urgentemente de 25 milhões de euros, ou fecha. Os trabalhadores da Aerosoles são gente que se orgulha dos sapatos que fazia, "um calçado de qualidade", e que, por isso, não entende como foi apanhada nas teias desta crise.

Mas é pior. Os trabalhadores da Aerosoles, assim como os 547 mil e setecentos que já perderam mesmo os seus empregos, foram apanhados não só pela crise, mas também pelo destino do seu país. À vista do baixo potencial de crescimento da nossa economia (de uns pessimistas 0,3% a uns 1,5%, com a utilização óptima de recursos, segundo os economistas) o desemprego que hoje nos parece excepcional, nos escandaliza e nos dói, pode tornar-se crónico. Podemos mesmo ter de nos habituar a valores próximos dos dois dígitos.

A avaliar pelas previsões, corremos o sério risco que o desemprego seja a maior e mais negra herança da crise. Porque a erosão económica de que fomos alvo, apenas desgastou mais a nossa base pouco sólida, pouco produtiva, pouco competitiva. Uma crise pode operar na economia uma selecção natural, pode ser o safanão que ajuda a acordar uma economia adormecida, uma oportunidade de mudar tudo o que nunca se teve coragem de mudar, ou se estava demasiado acomodado para o fazer.

Sendo assim,uma economia em modernização pode ter de passar por algumas dores de crescimento, nomeadamente o desemprego. Mas, nessas alturas, o desemprego também não é um fardo tão pesado, porque há um capital de esperança e de mobilidade que é entendido por todos. Só um cínico pensaria que este era o caso, em Portugal, se tudo continuar como está. Ora experimentem lá falar de destruição criativa aos trabalhadores da Aerosoles..."

Económico

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